Se há uma frase emblemática que expressa as motivações que levaram D.Manuel I a lançar a demanda pelo caminho marítimo para a Índia, é aquela que Vasco da Gama profere quando se apresenta ao Samorim de Calecute: “Viemos em busca de cristãos e de especiarias”.

Mas afinal, quais eram essas especiarias tão valiosas que moveram impérios?

Pimenta-preta (Piper nigrum): A Rainha das Especiarias

Cultivada principalmente na costa de Malabar (atual estado de Kerala), na Índia, a pimenta-preta bem que pode ser chamada a Rainha das Especiarias e, hoje em dia, reina efetivamente em todos os nossos pratos, ao lado do Rei Sal. Na Idade Média era a mais importante e procurada. A pimenta era essencial não só para temperar alimentos, mas também para conservá-los, dada a ausência de métodos de refrigeração eficazes na época. O seu valor era tão elevado que era frequentemente utilizada como moeda de troca.

Cravo-da-Índia (Syzygium aromaticum): Aroma e Medicina

Com um sabor forte, o cravinho era valorizado pelas suas propriedades aromáticas e medicinais. Era usado para temperar carnes, sopas e bebidas, além de possuir um papel importante na conservação de alimentos. A principal fonte eram as ilhas Molucas, conhecidas como as “Ilhas das Especiarias”.

Canela (Cinnamomum verum): O Luxo do Oriente

Muito apreciada pelo seu aroma e sabor adocicado, a canela era utilizada tanto na culinária quanto na medicina e na perfumaria. Vinha principalmente do Ceilão (atual Sri Lanka) e da China, sendo um produto de luxo.

Gengibre (Zingiber officinale): Versatilidade e Sabor

 Além de temperar pratos, o gengibre era muito valorizado pelas suas propriedades medicinais, sendo usado no tratamento de diversas enfermidades. A sua versatilidade e as suas características aromáticas tornaram-no uma especiaria muito desejada. É originário do sudeste da Ásia

Noz-moscada (Myristica fragrans): Dupla Preciosa das Ilhas Banda

 Esta era uma especiaria que valia por duas… ou melhor, do fruto da moscadeira, planta que também era originária das Ilhas Banda (Molucas), saiam duas especiarias que eram muito valorizadas:

 

    • A semente da moscadeira é aquilo que se chama noz-moscada. Com um sabor mais suave e um aroma distinto, era utilizada na culinária para dar sabor a pratos doces e salgados, além de ser usada em unguentos e medicamentos.

    • A maça, ou macis em português do Brasil, é a película avermelhada e rendilhada que envolve essa semente, conhecida tecnicamente como arilo. A maça é geralmente descrita como tendo um sabor e aroma mais delicados, sutis e adocicados que a noz-moscada, com notas mais frescas. Era usada tanto na culinária como na medicina e perfumaria, tal como a noz-moscada, mas com aplicações específicas e uma preferência por um sabor mais suave em certos pratos.

Porque é que essas especiarias eram tão valiosas?

Além do sabor e do aroma, essas especiarias tinham funções terapêuticas e conservantes. Num mundo sem frigoríficos e com pouca higiene, esses produtos eram verdadeiros aliados do bem-estar — e do comércio.

Na época medieval, a pimenta e outras especiarias deixaram de ser apenas condimentos para se tornarem verdadeiros símbolos de poder. A procura era tão alta que impulsionou a criação de rotas marítimas diretas, como a que levou Vasco da Gama até Calecute, abrindo uma nova era de expansão imperial portuguesa.

O Mundo Mudou por Causa das Especiarias

A busca por especiarias foi mais do que uma obsessão gastronômica: foi o motor da globalização moderna. As viagens de Vasco da Gama não apenas abriram novas rotas comerciais, mas também mudaram o equilíbrio geopolítico entre o Oriente e o Ocidente.

Hoje, ao temperarmos um prato com pimenta, gengibre ou noz-moscada, estamos saboreando um pedaço da história — e dos caminhos que ligaram continentes. Escondidas neste texto ainda existem imensas surpresas: porque é que as especiarias têm estes sabores fortes? Como é que se começaram a usar? E tantos os efeitos que resultaram da sua procura desenfreada, que transformou verdadeiramente o mundo… a seu tempo vamos explorar cada um destes temas….

Fontes

A Enciclopedia Britannica contém muita informação sobre as especiarias. Para além disso foram consultados artigos do site Florestas.pt e da Revista Jardins

Alvaro Velho. “Roteiro da primeira viagem de Vasco da Gama à Índia. Leitura crítica, notas e texto introdutório por José Marques”, Publicado pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto, 1999.

“Black Pepper Consumption in the Roman Empire”, Cobb, Matthew, 2018 

“Especiarias: diversidade e usos”, disponível em https://revistajardins.pt/especiarias-diversidade-usos/

 

“4 especiarias que crescem nas árvores”, disponível em https://florestas.pt/descobrir/4-especiarias-que-crescem-nas-arvores/

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